Esse daqui espero que o pessoal goste. Está oficialmente no link:
http://contosdanevoa.blogspot.com/2010/09/inferno-o-comeco.html
Espero que gostem. Comentem aqui e no blog também!
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Esse será um conto em primeira pessoa dividido em diversos capítulos. Claramente baseado na Bíblia Sagrada e em A Divina Comédia, peço para que aqueles que se consideram extremamente religiosos que não leiam os contos da série Inferno.
Muito grato,
Isaque Lazaro.
"E eis que vos envio como ovelhas ao meio de lobos; portanto, sede prudentes como as serpentes e inofensivos como as pombas." Mat. 10:16
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Estava eu sentado em minha escrivaninha, e a lua brilhava lá fora um
brilho amarelado. Minha alma triste se coloria em sépia, como aquela lua
se mostrava. Minhas mãos não escreviam boas histórias, e era a única
coisa que eu pensava saber fazer. O que eu faria então?
Sem boas estórias, eu seria um inútil nessa vida, não serviria para
nada. Nunca fui um escritor excepcional, mas sem inspiração, eu não
seria nem mesmo um escritor.
Livros de ocultismo residiam sobre minha mesa, toda forma de estudos
sobre a mitologia estavam em minha estante. O paganismo dominava aquele
aposento antes tomado pelo Feng Shui. Acabara de ler A Divina Comédia.
Naquele momento, invejei Alighieri do fundo de minha alma. Odiei-o, pois
ele seria para sempre lembrado por ter visto os círculos do inferno. No
entanto, se eu tivesse tido eu, com certeza faria um trabalho melhor!
...
Uma idéia veio na minha mente. Uma idéia de proporções idênticas á meu
desespero e sofrimento. Era chagada a hora de ter renome, e para isso,
eu faria a coisa mais imbecil que um ser humano jamais fez: Evoquei ás
forças do Abismo.
- Ó, força que veio á minha presença. Muitos homens selam pactos
contigo, e todos se arrependem. Estou ciente de meus feitos desde um
simples adolescente. Conheço por lendas tua imensa força, e fui ensinado
a temê-la, mas não temo mal algum! O Criador está com todos aqueles que
odeiam as forças do Maligno, quer eles sigam o Caminho Celestial da
forma tradicional ou não. Agora, Ó Maldito, apareça diante de mim, e
ouça minha proposta!
Aí, o pesadelo começou.
Meu corpo já não mais me obedecia, e meus olhos não mais se abriam.
Senti minha alma ligada no Mar Astral, onde os sonhos não são apenas
sonhos. No entanto, eu estava completamente consciente de minhas ações.
Estava de pé no meio de um negro infinito, e uma luz fraca emanava de
meu corpo. Uma presença negra olhava sobre minha existência, como um
leopardo se esgueirando até uma pobre presa desavisada. No entanto, eu
sabia exatamente o que vinha para mim.
E um forte vento circulou a área em que eu me encontrava. Esse vento
cortante parecia um urro de dor, e meus sentidos se confundiam em meio á
cólera infernal que tomava aquele lugar. Uma tontura me derrubou em
meus joelhos, mas eu nunca fui fraco, e me levantei após um breve
instante, apenas para notar três espectros diante de mim.
Um deles tinha um corpo com aparência humanóide feminino, e uma serpente
envolvia luxuosamente seus braços espectrais. Já o outro era como feito
de fumaça, no corpo de um homem. O terceiro e último tinha uma forma
não humana, porém não era um animal. Grandes chifres emanavam da cabeça
da colossal figura. Com um brilhante olhar, as outras duas sumiram.
- Demônio que diante de mim aparece, lhe peço para que ouça minha prece!
E respondeu-me a criatura, com uma estrondosa voz:
-Pois responda filho dos servos do Santo. Tendes me evocado, e com algo seu daqui sairei!
Um temor bateu meu peito.
- Veja, criatura abominável. Minh’alma não mais possui o dom para
escrever. Sei que teus feitos em teu domínio são tomados de teu
livre-arbítrio. E em sua infinita idade, deves ter criado engenhosas
formas de punir os errados. Quero que mostre-me essas atrocidades.
Mostre-me o que acontece com aqueles que fogem do caminho reto, para que
eu possa contar ao mundo, e ter meu lugar no mesmo!
- Garoto irresponsável. Não sou eu quem pune os malditos, mas sim meu
Pai. Sou apenas um instrumento sendo eternamente punido. Se quiseres ver
o inferno, morra! E assim, te esperarei em meu trono. Que hás de dar-me
em troca por essa pequena viagem em meu domínio de fogo eterno? –
Respondeu a Besta, com sua imponente presença.
- Todo ser humano possui um pouco de cada pecado dentro de si. É isso
que nos difere dos santos, e nos faz tão ricos de vida! Teste-me em cada
círculo do inferno, e faça-me enfrentar minhas fraquezas! Se eu
sucumbir ao pecado, me mantenha cativo para sempre em seu domínio de
horror. Caso eu for forte, e minha alma não for pelos seus servos
arrancada, eu saio do inferno, e pego meu lugar de direito na sociedade.
Além disso, enquanto eu estou no Abismo, que a Terra permaneça parada,
para que ninguém note minha ausência. Se eu falhar, que eu seja
encontrado morto em corpo. Está de acordo?
Uma grotesca gargalhada deliciou-se com minha fala.
-Você acha mesmo que pode escapar de minhas tentações, garoto? A aposta
está feita agora, e nada te fará voltar para sua vida! Por que faz esse
trato com aquele que em uma fração de tempo corrompeu uma Igreja por
completo?
Parei, e pensei. Por fim, respondi:
- Porque eu sei que assim, encontrarei redenção.
Um grande Vórtex então tomou meu corpo, levitando-o. Uma energia negra
tentava invadir meu corpo, enquanto a luz de minha alma me impedia de
ser tomado por aquilo. De repente, vi que pouco a pouco, eu ficava
translúcido. Num último momento de racionalidade, gritei, em meio á
imensidão de sons daquele vórtex:
-Senhor, nosso Pai que estás nos Céus! Entrarei na morada do inimigo, e
não sei se de lá sairei. Sou apenas um servo, meu Pai, mas eu sei que
apenas assim serei merecedor novamente de entrar em teu Reino de Glória.
Senhor, conceda-me a força e a fé necessários para cruzar o lar do
Maldito, e seu nome será eternamente por mim glorificado! Amém!
Com essas palavras, tudo se apagou. Desmaiei, e minha alma começou a ser
levada para onde o horror começaria. Embarcava naquele momento no
Inferno.